Por que se calar se o falar é tão importante?
Esse texto trata-se de um convite para falarmos abertamente sobre saúde mental e psicologia do trabalho, favorecendo reflexões acerca de tabus, preconceitos e pensamentos prejudiciais que dificultam os processos nas vidas daqueles que foram impactados por desequilíbrios na saúde do profissional pode levá-lo a se ausentar do trabalho (absenteísmo), gerando licenças por auxílio-doença. A qualidade dos serviços prestados e o nível de produção fatalmente são afetados, assim como a lucratividade. Além disso, falar sobre isso propicia a ampliação das informações sobre os sinais de alerta e de proteção, para que possamos nos orientar na conduta e no manejo do comportamento no ambiente de trabalho e em casa.
Atualmente, observa-se uma pressão constante contra a grande massa de trabalhadores existentes em quase todo o mundo. Uma ameaça com objetivo quase que certeiro faz com que milhares de pessoas se sintam aflitas, pois a única ferramenta de que dispõem, seu trabalho, pode ser dispensado a qualquer momento.
Mudanças significativas acorreram nas organizações e cada vez mais o mundo necessita de um trabalhador com maiores habilidades, ágil que saiba lidar com tudo com rapidez manual, na voz e na mente, além de uma bagagem de informações disponíveis caso venha precisar utilizar, ante qualquer dificuldade.
Passamos a maior parte de nosso trabalho, em relações pessoais fora de casa, esses locais deveriam ter um valor efetivo de extrema importância. No entanto, as relações de companheirismo e amizade no trabalho são passageiras, imediatas, competitivas. Alguns são postos no poder, cargos de liderança, outros absorvidos, exigidos, sugados e outros são desligados da possibilidade de trabalhar. Além dos acidentes de trabalho, muitos afastamentos do trabalho relacionados aos aspectos psicológicos, tais como: assédio moral, comprometimento da saúde mental etc.
Assédio moral
A violência moral no trabalho não é fenômeno novo e pode-se dizer que ela é tão antiga quanto o próprio trabalho. A globalização e a consequente flexibilização das relações trabalhistas trouxeram gravidade, generalização, intensificação e a banalização do problema.
As pressões por produtividade e o distanciamento entre os órgãos dirigentes e os trabalhadores de linha de produção resultam a impossibilidade de uma comunicação direta, desumanizando o ambiente de trabalho, acirrando a competitividade e dificultando a germinação do espírito de cooperação e solidariedade entre os próprios trabalhadores. Esse fenômeno não é privilégio só dos países em desenvolvimento, ele está presente no cenário mundial. Atinge homens e mulheres, altos executivos e trabalhadores braçais, a iniciativa privada e o setor público.
Temos consciência de que a solução dos problemas de assédio não está apenas nos dispositivos legais, mas na conscientização tanto da vítima, que não sabe ainda diagnosticar o mal que sofre, do agressor, que considera seu procedimento normal, e da própria sociedade, que precisa ser despertada de sua indiferença e omissão.
Existem várias definições que variam segundo o enfoque desejado, tais como o enfoque médico, o psicológico ou o jurídico. Juridicamente, o assédio moral pode ser considerado como um abuso emocional no local de trabalho, de forma maliciosa, sem conotação sexual ou racial, com o fim de afastar o empregado das relações profissionais, por meio de boatos, intimidações, humilhações, descrédito e isolamento.
O assédio horizontal é o mais frequente quando dois empregados disputam a obtenção de um mesmo cargo ou uma promoção. Há, também, a agravante de que os grupos tendem a nivelar seus indivíduos e têm dificuldade de conviver com diferenças. Por exemplo, a mulher em grupo de homens, homem em grupo de mulheres, homossexualidade, diferença racial, religiosa, entre outras. Esse conflito é horizontal, e acontece quando um colega agride, moralmente, a outro e a chefia não intervém, recusando-se a tomar partido do problema, só reagindo quando uma das partes interfere na cadeia produtiva da empresa (quando falta seguidamente ao trabalho). O conflito tende a recrudescer pela omissão da empresa em não intervir.
Síndrome da estafa profissional (síndrome de burnout)
O mundo do trabalho é um complexo monstruoso que deveria auxiliar todo ser humano em sua qualidade de vida, no entanto, essa realidade quando adentra, fere o psiquismo humano, fazendo com que as pessoas se sintam impotentes e desvalorizadas, por fim, a ineficácia (ou sentimento de incompetência) revela uma autoavaliação negativa associada à insatisfação e infelicidade com o trabalho.
O termo burnout é definido, segundo um jargão inglês, como aquilo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia. Metaforicamente é aquilo, ou aquele, que chegou ao seu limite, com grande prejuízo em seu desempenho físico ou mental. A síndrome de burnout é um processo iniciado com excessivos e prolongados níveis de estresse (tensão) no trabalho.
A principal dimensão afetada entre profissionais com exaustão emocional, que é considerada como a primeira reação ao estresse gerado pelas exigências do trabalho, abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, cefaléias, náuseas, tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono. O distanciamento afetivo provoca a sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença destes muitas vezes desagradável e não desejada. Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação com o trabalho pode ser descrita como uma sensação de que muito pouco tem sido alcançado e o que é realizado não tem valor.
Há estudos que apontam uma intensa associação entre baixos níveis de satisfação com o trabalho e problemas mentais e psicológicos como burnout, auto-estima, depressão e ansiedade.
Deve-se, então, refletir sobre que medidas poderiam ser adotadas no sentido de modificar as condições de trabalho nas organizações, as relações e a motivação desses profissionais.
Analisar o trabalho na perspectiva da psicodinâmica do trabalho.
»Compreender os aspectos psicológicos na seleção e no treinamento de pessoal;
»Promover a qualidade das relações humanas no trabalho, identificando a função do grupo para o bem-estar no trabalho;
»Promover a educação prevencionista.
Faz-se também necessária a adoção de um código de ética, que vise ao combate de todas as formas de discriminação e de assédio moral e sexual. Outra medida é a difusão do respeito à dignidade e à cidadania, inserida na política de recursos humanos, que se exige dos trabalhadores. Ressalte-se, entretanto, que de nada adiantam a conscientização dos trabalhadores ou o estabelecimento de regras éticas ou disciplinares, se não forem criados, na empresa, espaços de confiança, para que as vítimas possam dar vazão às suas queixas.
As pressões na saúde mental mundial estão se intensificando. De acordo com as Nações Unidas, o mundo será mais velho, mais populoso e mais pobre aproximadamente em 2050. Como as condições ao seu redor criam tensão (estresse) e ansiedade, mais pessoas serão suscetíveis a transtornos mentais. Segundo a OMS, nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar e participar na sociedade.
Se o trabalho leva ao sofrimento e ao adoecimento, esse mesmo trabalho pode constituir-se em uma fonte de prazer e de desenvolvimento humano do indivíduo.
Temos de começar a colocar mais de nossos recursos a favor da saúde mental!